IRRIGAÇÃO É ALTERNATIVA CONTRA SECA HISTÓRICA EM MATO GROSSO

Mato Grosso se prepara para mais uma temporada de seca severa. A previsão climática para este segundo semestre preocupa produtores, técnicos e autoridades: temperaturas acima da média e baixos índices de chuva são esperados em grande parte do estado.
O alerta vem após um 2024 marcado por 124 dias seguidos sem chuva — a pior estiagem registrada em mais de quatro décadas, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).
Diante desse cenário, a irrigação surge como alternativa essencial para garantir a produção agrícola, sobretudo entre os agricultores familiares, que sofrem mais com a escassez hídrica.
Segundo Hugo Garcia, presidente da Aprofir (Associação dos Produtores de Feijão, Pulses, Colheitas Especiais e Irrigantes de Mato Grosso), a irrigação pode garantir aumento de 25 a 35% na produtividade, mesmo em períodos críticos de seca.
“Mato Grosso tem potencial para irrigar entre 8 e 10 milhões de hectares, mas hoje irrigamos apenas 230 mil. Estamos muito aquém da nossa capacidade”, alerta Garcia.
Ele destaca que a irrigação é o caminho para garantir primeira, segunda e até terceira safra, trazendo segurança econômica para milhares de produtores.
No entanto, o crescimento da agricultura irrigada ainda enfrenta três grandes gargalos:
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Burocracia para obtenção da outorga de uso da água;
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Energia elétrica de baixa qualidade no campo;
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Dificuldade de acesso ao crédito, principalmente entre pequenos produtores.
No leste do estado, Canarana se consolida como referência em agricultura irrigada. O município abriga a sede do Polo de Agricultura Irrigada Araguaia-Xingu, reconhecido oficialmente pelo Ministério do Desenvolvimento Regional em outubro de 2022, como parte da Política Nacional de Irrigação.
Coordenado pelo IFMT – Campus Canarana, sob liderança do professor Carlos Câmara, o polo atua como um centro articulador de projetos, estudos e captação de recursos para expandir a irrigação na região.
“O Polo não tem CNPJ ou estrutura própria. Ele funciona como uma rede de articulação entre instituições, produtores e governo, com foco em fortalecer a irrigação de forma sustentável”, explica Carlos Câmara.
Durante sua implantação, foram elencadas prioridades estruturais para que a irrigação avance:
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Conclusão da pavimentação da BR-158, facilitando o escoamento da produção;
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Instalação de subestações de energia elétrica, para ampliar a capacidade energética e viabilizar os sistemas de irrigação.
Além disso, a concessão de licenças ambientais para uso da água é feita pela SEMA, que define os limites de acordo com a capacidade da bacia hidrográfica e estabelece horários específicos de irrigação, como períodos noturnos ou aos finais de semana.
A seca prolongada impacta diretamente os pequenos produtores que dependem exclusivamente da chuva para cultivar hortaliças, frutas e grãos. Sem irrigação, muitas famílias veem sua principal fonte de sustento ameaçada.
Com o avanço do Polo Araguaia-Xingu e o trabalho de associações como a Aprofir, Mato Grosso dá passos importantes para enfrentar os efeitos da estiagem e garantir um agro mais forte, sustentável e resiliente ao clima.
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